segunda-feira, 19 de julho de 2010

EPISTEMOLOGIA CONVERGENTE MÉTODO QUE CONDUZ A APRENDIZAGEM*

                                                                                                                              Jocilene Ferreira Lima**



RESUMO

Este artigo, de caráter bibliográfico, apresenta nos estudos da Epistemologia Convergente, elencados por Jorge Visca (1935-2000), que a aprendizagem do ser humano dar-se desde o seu nascimento e esta é ininterrupta e que, a teoria criada por esse psicopedagogo argentino fundamenta - se na assimilação recíproca das contribuições das escolas piagetianas, psicoanalíticas e da psicologia social. A análise busca apresentar não só compreender o porquê de o sujeito não aprender alguma coisa, mas o quê ele pode aprender e como.. Em linhas gerais, o artigo fornece uma visão critica/reflexiva não somente da ideia do próprio autor como de autores influenciados por Jorge Visca. E fornece subsídios para o trabalho construtivo onde visa resgatar a identidade profissional.

Palavras - chave:  Epistemologia Convergente, aprendizagem e



INTRODUÇÃO

A Epistemologia convergente é uma linha teórica, criada pelo psicopedagogo argentino Jorge Visca (1935-2000), que propõe um trabalho clínico utilizando-se da confluência das três linhas: A Psicogenética (Piaget), a Psicanálise (Freud) e a Psicologia social (Enrique Pichon Riviere) onde, apresenta uma dimensão clássica de clínica, propondo diagnóstico, tratamento corretor e prevenção.

Para Visca (1987), a aprendizagem depende de uma estrutura onde envolva o cognitivo/afetivo/social, nas quais estas sejam indissociavelmente ligadas a alguns aspectos desses três elementos. Sendo assim, a inteligência vai se construindo a partir da interação do sujeito e as circunstâncias do meio social.

social (Enrique Pichon Riviere), onde apresenta uma dimensão clássica de clínica, propondo diagnóstico, tratamento corretor e prevenção.

A partir dessas três linhas, estuda-se a aprendizagem e seus problemas onde se caracteriza por ser uma visão incorporada do conhecimento.

Mas o que é a aprendizagem? De que forma acontece?

Podemos mencionar que, existe um número bastante grande de teorias da aprendizagem. Teorias estas que parte da idéia de que os indivíduos têm diferentes formas de perceber e de processar a informação o que implica nos processos de aprendizagem. Para Dubois(1994) a aprendizagem é uma ação continuada da qual se criam novas representações que podem ser reveladas , no sentido em que idéias já prontas podem ser propostas aos sistemas inteligentes , que as incorporam.

Na visão de Visca (1987), a aprendizagem depende de uma estrutura onde envolve o cognitivo/afetivo/social, nas quais estas são inseparavelmente ligadas a alguns aspectos desses três elementos. Dessa forma, a inteligência iria se construindo a partir da ação mútua do sujeito e as particularidades do meio social.

No seu ponto de vista bastante clínico,e aludindo-se muito a Piaget, Freud, Pichon e suas Epistemologias, Visca é capaz de mostrar que a aprendizagem é vital na edificação das idéias. Que para aprender a pensar socialmente é indispensável à orientação do condutor e o contato do aprendiz com outros de si.

AS TRÊS TEORIAS CONDUTORAS DA EPISTEMOLOGIA CONVERGENTE

Teoria Psicogenética

De acordo com a teoria psicogenética (Piaget¹), a idéia de aprendizagem é construída nas estruturas cognitivas onde esta é como um mapa mental interno no qual os conceitos são construídos pelo individuo para compreender e responder às experiências que decorrem dentro do seu meio envolvente.

Piaget dividiu o desenvolvimento humano em quatro estágios que são vividas de acordo com cada sujeito:

1. Estágio da inteligência sensória motora (até os dois anos) – A criança busca adquirir controle motor e aprender sobre os objetos físicos que as rodeia.

2. Estágio da inteligência simbólica ou pré-operatória (de 2 a 8 anos) – A criança busca habilidades verbal.

3. Estágio da inteligência operatória concreta (de 7-8 a 11-12 anos) – A criança lida com conceitos abstratos,números e relacionamentos.

4. Estágio da inteligência operatória formal (12 anos a 14-15 anos) – A criança começa a raciocinar lógica e sistematicamente.

Reportando-se a Piaget, Visca (apud Pinel e Colodete 2004), compreende que o desenvolvimento humano dividiu-se em quatro níveis:

* Primeiro nível – corresponde à inteligência sensório-motora. Nesse nível a criança constrói um conjunto de “esquemas de ação” que lhe permite compreender a realidade e a forma como esta funciona.

* Segundo nível – inteligência pré-operatória. A criança é competente ao nível do pensamento representativo, mas precisa de operações mentais que ordene e organize os seus pensamentos.

* Terceiro nível – inteligência operatória concreta. As experiências físicas e concretas se acumulam e a criança começa a estruturar lógicas para explicar as experiências sem abstração.

* Quarto nível- inteligência formal ou hipotética dedutiva, a criança atinge o raciocínio abstrato, conceptual levantando hipóteses sendo capaz de pensar cientificamente.

Assim, através do estudo minucioso de Piaget são aplicados diagnósticos, provas operatórias, exames clínicos que verifica o nível de aprendizagem em que o sujeito se encontra, pois como afirma Visca (1991), ninguém pode tornar-se capaz de aprender algo acima do nível de estrutura perceptiva que demonstra.

O desenvolvimento cognitivo, não se respalda apenas no aspecto psicogenético. Na Epistemologia Convergente, os elementos afetivos e sociais também possuem uma grande importância no desenvolvimento/aprendizagem do ser humano.



Teoria Psicanalítica

Na visão teórica psicanalítica Freud² (1856-1939), dois sujeitos podem ter o mesmo nível cognitivo e distinto em relação a um objeto, mas aprenderão de forma diferente, pois a personalidade é inigualável. Conhecer o ser humano, o modo como este se conhece, seu objeto de desejo, impulsos e valores, dá um significado maior ao vínculo e a relação com o individuo.

Para Visca, a psicanálise revela a importância das relações afetivas e dos vínculos-bons ou maus estabelecidos pelo aprendiz estando diante do objeto de aprendizagem.



Teoria da Psicologia Social

E com o olhar na teoria da psicologia social (Enrique Pichon Riviere³) o enquadramento, cujo significado seria possibilidade de pensar/sentir/agir, parte dos quatros conceitos: Logística, estratégias, táticas e técnicas. Visca (1987) sugere trabalhar-nos-enquadres-com constantes de tempo, espaço, tarefas, honorários para  que o movimento do aprendiz possa ser observado e para que o terapeuta possa ter meios de ação e sugira a superação da dificuldade. Assim, o enquadramento facilita a transição de um tempo e um espaço próprio, partindo do princípio do prazer.



CONTRIBUIÇÕES DAS TRÊS TEORIAS NO ENSINO/APRENDIZAGEM



Partindo da assimilação das três teorias, Visca (apud Máximo 2000), construiu uma proposta de diagnóstico e sua correspondente de processo interventor ou corretor. Nesse processo, propõe buscar através da relação entre o aprendiz e o agente corretor, a cooperação entre ambos que nasce a possibilidade de superação das dificuldades.

Nesse contexto a Epistemologia Convergente, pode Ser compreendida como um condutor teórico/prático a visão que pode superar as teorias inatistas.

Para Visca (1999) a Epistemologia traz desafios para o “Terceiro Milênio”: É necessário aperfeiçoar os resultados alcançados pela definição, mais inclusiva e profunda do seu objeto de estudo/ aprendizagem e os recursos diagnósticos, a abordar as eventuais provocações do futuro.

A epistemologia convergente dentro de uma perspectiva integradora de três teorias possibilita ao educador/ (psico) pedagogo/psicólogo a refletir sobre as mais diversas causas dos problemas que aparecem no decorrer da aprendizagem e do ensino.

Estudando a aprendizagem e os seus problemas a partir dessas três linhas, Visca nos remete a perceber que a aprendizagem depende do organismo, pois a pessoa aprende com ou sem professor ou educação se este estiver livre e solto; assim, o próprio ambiente é quem transforma e controla o sujeito mesmo este não tendo história alguma.

Em Visca, compreendemos que cada contexto oferece diferentes crenças, conhecimentos, atitudes e habilidades. Desse modo, o pensar, o refletir e o agir sobre os problemas que se manifesta torna-se imprescindível para a construção social e histórica da identidade profissional.

Pensar nos diferentes enfoques teórico como: Transferência, contratransferência e resistência baseadas na psicanálise; raciocínio clinico, as etapas universais de idade cronológica, a compreensão do erro vindas da psicogenética e a aprendizagem centrada na tarefa e grupos operativos da Psicologia social fornecem muitos subsídios para o trabalho e construção da sociedade e sua história. Além, de defender que a melhor forma de transmissão de aprendizagem acontece não só na escola, mas também no sujeito. Afinal como ressalta Visca:

 “... quando se fala de psicopedagogia clínica, se está fazendo referência a um método com o qual se tenta conduzir à aprendizagem e não a corrente teórica ou escola. Em concordância com o método clínico podem-se utilizar diferentes enfoques teóricos. O que eu preconizo é o da epistemologia convergente” (1987, p.16).


         Nesse sentido, a ação se inicia a partir do momento em que teóricos abriram-se a outros meios de sentir/pensar/agir o processo ensino-aprendizagem.

Como diz Pinel (2000), a disposição opõe-se ao preconceito, impondo modéstia de compreender o processo ensino/aprendizagem como um lugar de união de diferentes jeitos de tratar o fenômeno da escolaridade e de suas complicações.

Portanto, a vida em sociedade é fundamental para a construção do conhecimento. A teoria da Epistemologia Convergente nos leva a perceber que a aprendizagem direciona a vida e mostra as possibilidades de ser feliz.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos estudos realizados sobre a Epistemologia Convergente, criado por Jorge Visca, o ser humano aprende sem interrupção do seu nascimento em diante. A teoria fundamenta-se na união das contribuições das escolas piagetianas, psicanalíticas e da psicologia social. O que nos leva a compreender que a aprendizagem não pode ser considerada como objeto científico, deve ser estabelecida como uma solicitação que a explique, para isso merece a preparação de todos que atuam e se relacionam com as modificações a serem operadas na personalidade humana.

O estudo nos leva a perceber que somos responsáveis em detectar se as situações podem ou não estar influenciando o processo de aquisição da aprendizagem, que um olhar amplo e focado nas dificuldades ajuda a diagnosticar as possíveis causas.

Este artigo oferece novos conhecimentos que nos darão oportunidades para o nosso crescimento como futuros psicopedagogos e um novo olhar mediante a melhor forma de transmissão de aprendizagem observando que esta não acontece somente na escola, mas também, no sujeito nos quais devem ser valorizados todos os aspectos desde o intelectual, afetivo e o emocional.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



CARVALHO, Maria Cecília (org.) Metodologia Científica, Fundamentos e Técnicas - Construindo o Saber. 6ª edição.Campinas,SP:Papirus,1997.

DUBOIS, Daniel. O labirinto da inteligência. Da inteligência Natural à inteligência Fractual:Lisboa:Instituto Piaget,1994.

MÁXIMO, Maria Rosa Sancho Moreira. Da sala de aula à psicopedagogia Clínica.2000.Disponível em:acesso em: 30 de jun 2010.

MELHORAMENTO, Dicionário: Língua Portuguesa - São Paulo: Editora Melhoramentos. 2006.

PINEL, Hiran; COLODETE, Paulo Roque. Abordagem da Epistemologia Convergente:Uma abordagem nascida no movimento da Psicopedagogia Argentina de Jorge Visca. 2004. Disponível em:acesso em:29jun2010.

VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica – Epistemologia Convergente,Porto Alegre,Artes Médicas,1987.

VISCA, Jorge. Psicopedagógica: Novas Contribuições:Nova Fronteira,1991.

VISCA, Jorge. Artigo:Os Caminhos da Psicopedagogia no terceiro Milênio,1999.






Artigo-2010

* Texto elaborado a partir do resumo da obra de Jorge Visca “A Clinica Psicopedagogica: Epistemologia Convergente”, Trad. PINEL, Hiran; COLODETE, Paulo Roque. Abordagem da Epistemologia Convergente: Uma abordagem nascida no movimento da Psicopedagogia Argentina de Jorge Visca. 2004. ** Pós-graduanda em Psicopedagogia Clínica e Intitucional Pelo Centro de Pós – graduação e Extensão Universitário – CEU – Unidade Superior do Brasil - UNIESB.